sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O sorvete e a senhora


Eram mais de 2 horas da tarde. O sol quente já esquentava o chão por onde eu andava. Caminhava em direção à sorveteria que ficava logo na primeira esquina. Tinha no bolso uma mísera nota de um real (toda sujinha, ah coitadinha!), que havia ganhado de meu pai por ter lavado a louça, coisa que eu detestava fazer.

Chegando à sorveteria, pedi um sorvete de casquinha de chocolate. Logo após entrou uma senhora de aparência bem humilde, parecia ter mais de 70 anos, que andava curvada e tinha os olhos bem fundos, indecifráveis. Ela aproximou- se do dono da sorveteria e pediu uma esmola, alegando que tinha mais de quatro dias que não colocava se quer um pedaço de pão na boca. Não pedia muito, apenas queria o suficiente para comprar apenas um pão.

Fiquei observando-a e parecia que via nela toda a imagem da realidade que existia no mundo. Em sua imagem via todas as pessoas – homens, mulheres e crianças- que viviam na mesma situação enfrentando a fome, a miséria, as injustiças e até a violência.

Aquilo mexeu profundamente comigo. Tantas vezes que eu reclamava por não ter o sapato da moda, por não comer o hambúrguer com Coca-cola do Mc Donald’s, coisas fúteis, e o que aquela senhora pedia era simplesmente um pedaço de pão.

O dono da sorveteria respondeu que não tinha dinheiro, e que ela fosse pedir em outro lugar, que saísse dali, pois estava espantando a clientela. A senhora muito triste, retirou – se, e com muita dificuldade foi caminhando em direção a porta. Ele virou-se para mim para entregar o meu sorvete e quando ia pegar o dinheiro no bolso, desisti e não mais o comprei.

Saí rapidamente da sorveteria. Queria muito aquele sorvete, o tempo quente pedia em demasiado, mas não podia ficar com esse peso na consciência. Logo avistei a senhora, e entreguei-lhe a minha nota de um real. Ela olhou para mim com um olhar penetrante, abriu um sorriso e disse muito obrigada, você me deu a última refeição de minha vida, posso morrer feliz agora. Não entendi nada, e voltei para casa.

No outro dia, voltei ao mesmo lugar e vi aquela senhora, caída no chão e morta. Assustei – me e vi que aquela senhora havia morrido com um grande sorriso na face. Morreu satisfeita.

Aquela imagem eu nunca mais esqueci. Mudou totalmente minha vida e meu modo de vivê-la, meu modo de pensar e agir. Aquela senhora se foi, mais tenho certeza de que eu a fiz feliz aquele dia e dei-lhe a última alegria. Isso pra mim foi algo gratificante, pois pude ajudar uma pessoa e não pensar somente em mim, mas no meu próximo. E assim esse dia ficou gravado pra sempre em minha mente.

Aluna: Mônica Menezes Flôres

Turma: 3003 (ano: 2009)